
VELHAS RESPOSTAS PARA NOVAS PERGUNTAS
A cafeicultura nacional foi abalada recentemente com a
notícia da tentativa de importação de café para suprir a indústria de solúvel e
torrefação.
Como previsto houver manifestaçoes apaixonadas de ambos os
lados e o debate perdeu a racionalidade.
Em setembro de 2016, ainda sob de uma seca muito severa a
situação das lavouras capixabas era desesperadora e prenunciava falta de
produto para suprir a indústria e as exportaçoes.
Em dezembro do ano passado, a indústria propôs importar 430
mil sacas mensais de dezembro/16 a abril/2017, sendo que 230 mil sacas serão
reexportadas pela indústria de solúvel na modalidade de drawback. Depois de
muito debate, a CONAB fez um levantamento de estoques que chegou a 2,2 milhões
de sacas e os cafeicultores capixabas dizem que o estoque é de 4,2 milhões de
sacas. Até esse momento, o imbróglio continua sem solução.
Nesse texto pretende levá-los à reflexão sobre como os
desafios do setor vem sendo enfrentados pela cadeia produtiva do arábica e do
robusta.
No mundo inteiro, as empresas e pessoas têm um sócio
majoritário chamado Governo e a ele todos recorrem para tudo e por tudo, e, na
maioria das vezes a resposta é sempre negativa ou abaixo das expectativas.
Portanto, a primeira resposta velha para as demandas do
setor é esperar que a União resolva os impasses entre produção, indústria e
mercado consumidor. O Governo por mais que queira é um intermediador de
conflitos e suas decisões tem múltiplos impactos e por conta disso, na maioria
das vezes, adota a posição que oferece o menor risco ou deixa que como diz o
dito popular: “no sacolejo da carroceria as melancias se ajeitam”.
Outra resposta antiga é o meu custo de produção é R$ X e o
café nesse preço de hoje não tem como continuar na atividade. Depois do advento
das bolsas de valores e derivativos que são muito mais antigas do que muitos
pensam, aliadas à internet e a velocidade da circulação de moedas e
informaçoes, o peso da relação produção X consumo, que era fator de definição
do preço perdeu o grau de importância e tornou-se apenas o “fator de ajuste”
das apostas feitas antes do jogo começar, ou seja, quando chega aos 44 minutos
do 2º tempo os jogadores refazem as suas posiçoes alinhando seus palpites para
o resultado do jogo nesse momento.
Continuando com uma das verdades de antanho, se hoje está
por R$ X amanhã vai subir mais um pouco porque a safra vai ser pequena ou no
ano que vem vai faltar café etc. A variação de preço é normal e natural e
obedece a lógica de que quando a oferta é maior que a demanda o preço cai e
vice versa, mas não é só o preço do produto físico no armazém mas
principalmente o preço do mercado futuro e de opçoes, já que os agentes de
mercado não trabalham pensando na safra que está na árvore, mas investem na
alta ou na baixa da safra que ainda não floresceu.
Mais uma das falácias bem frequentes, o produtor fica com a
menor parte porque uma xícara de café na cidade é R$ 5,00 e com um quilo de
café dá para fazer 142 xícaras de expresso e 200 de café coado. Acontece que o
café é parte, principal parte é verdade, de uma enorme engrenagem que começa
bem antes da porteira, passa por ela até chegar nas mãos do consumidor final e
nesse percurso somam-se “n” pessoas, processos, insumos e impostos, e, todos
têm que ganhar uma parte, uns ficam com um quinhão maior é verdade, mas todos
precisam ter lucro para a roda da economia continuar girando.
E na minha opinião a resposta arcaica é que não adianta
fazer nada porque o Brasil, os políticos, os líderes do setor não têm jeito e é
melhor eu cuidar da minha vida e tentar resolver meus problemas sozinho.
Depois de falar das respostas antigas é hora de falar das
novas perguntas.
Você sabia que o FNDE-Fundo Nacional do Desenvolvimento da
Educação, do Ministério da Educação não proíbe o café na merenda escolar das
crianças da primeira fase do ensino fundamental?
Você já se deu conta de quantos pessoas de até 30 anos das
suas relaçoes pessoais não toma café regularmente ou não tomam dia nenhum?
Você já parou para pensar porque os demais agentes do
mercado de café não fazem nenhum esforço para que o mercado de opçoes e de
futuros decole?
Porém, ser engenheiro
de obra pronta é o melhor dos mundos porque apontamos os defeitos, criticamos e
seguimos em frente sem fazer nada.
Por outro lado, dar palpites e querer ser o “dono da
verdade” também é muito fácil.
Depois de tudo que já escrevi quero levantar mais uns pontos
para despertar a sua atenção.
Com relação ao Governo, é preciso ter em mente que nenhum governo
vai pensar duas vezes quando a solução apresentada representar risco de
inflação ou desemprego, já que os políticos em geral só têm medo de uma única
coisa na vida que é perder o seu voto na próxima eleição. Assim, o caminho é
cobrar dos representantes uma ação firme em defesa da classe, confrontá-los
claramente quando eles não agirem dessa forma, retirar o apoio e financiamento
para as próximas eleiçoes e lançar novas lideranças que se comprometam com as
causas e projetos de interesse geral.
Quem define o preço é sempre o consumidor. Isso se aplica a
gôndola do supermercado e também na hora de comprar os insumos. Por isso, é
preciso levar em conta que a “facilidade” tem preço e na maioria das vezes ele
está muito bem disfarçado.
Um exemplo clássico são as operaçoes de troca de adubo por
café. São muito mais fáceis, rápidas e desburocratizadas que os financiamentos
bancários ou operaçoes de mercado. Contudo, quem está na ponta compradora não
tem como discutir o preço da mercadoria e isso se aplica, também, aos bancos
onde existe um pedágio caro nas operaçoes.
A resposta é planejar, negociar e ter o seu custo de
produção real protegido através dos contratos de opção de venda onde se garante
a renda e o risco que se corre é de ganhar mais caso o produto suba além do
preço de garantia. É difícil, é complicado, é trabalhoso, tem pouca gente
confiável que atua no mercado, sim é tudo isso, mas quanto mais se demorar para
aprender mais dinheiro, fios de cabelo e saúde você vai perder.
E como eu faço para que o meu quinhão dos R$ 5,00 da xícara
aumente? Basicamente investindo na melhoria do seu produto, no beneficiamento e
industrialização através de associaçoes, cooperativas ou mesmo individualmente.
Cito o exemplo dos cafeicultores de Carmo de Minas e Divinolândia
na agregação de valor e do pessoal do Cerrado Mineiro que agregou valor através
do associativismo resultou no reconhecimento internacional da “Denominação de
Origem para produção de Café” para 53 municípios da região.
Penso que se todos se unissem em torno de instituiçoes
reconhecidas pela sua expertise haveria uma revolução positiva na cafeicultura.
Vou mencionar instituiçoes que fazem um trabalho excepcional em favor do setor
que são: a BSCA-Associação Brasileira dos Cafés Especiais, Fundação PROCAFÉ,
INCAPER e EMPBRAPA-Café.
Com relação a hora de vender ninguém tem a resposta certa,
mas com toda certeza vender em lotes em cada movimento de alta é a melhor
postura. Isso é tão óbvio que a grande maioria não acredita e muitas vezes faz
igual a aquela fábula antiga da “galinha dos ovos de ouro”, onde por ganância o
dono matou a galinha pensando encontra dentro dela milhares de ovos!
Produtor vive dizendo que detesta “especulador” e que esse
ser fica com todo o lucro da lavoura. Porém, pensem comigo, quando eu seguro a
minha produção e não vendo mesmo quando o preço está subindo, que papel estou
assumindo no mercado? Quem produz é sempre vendedor e nunca especulador! Nesse
caso, assim como na fábula a esperteza demais engole o dono.
Como disse anteriormente, o mercado olha para as gemas que
ainda nem apontaram nós olhamos para as flores e os frutos na árvore.
Percebe como essa diferença de visão do negócio café impacta
diretamente o seu resultado, seu planejamento e sua vida?
Quem serão os consumidores de café no Brasil nos próximos 40
anos?
Os estudos da ABIC demonstram que as classes C, D e E são os
grandes consumidores de café e são extremamente sensíveis as variaçoes de
preço.
Outra constatação é que apesar do consumo entre os jovens
estar em alta, existe um gap dos anos 1980 a até muito poucos anos atrás de que
todos diziam que o café fazia mal à saúde e quem nasceu nesse período não teve
café na sua infância e não desenvolveu o hábito do consumo regular diário.
Somado a tudo isso os gestores da merenda escolar continuam
restringindo o acesso ao café nas escolas públicas.
consumo interno pelas mais diversas razões.
o consumo interno, melhorar qualidade para agregar valor, exportar cada vez
mais produto industrializado e abrir novos mercados nos países onde o consumo
de café é baixo ou inexistente, mas sem pensar na China como solução de todos
os problemas. A China é concorrente e não mercado em tudo que dá lucro.
Que tal investir nos países emergentes do leste europeu,
Ásia e Oriente Médio?
Por fim, a resposta para a maioria dos problemas está na
velha máxima que duas cabeças pensam melhor que uma.
Quando o pessoal do algodão sentiu o peso dos subsídios
americanos, depois de passar anos atrás de uma ação direta do Governo Federal,
se reuniram, se cotizaram, contrataram um advogado e entraram com uma ação na
OMC, o tempo passou e ganharam a ação e uma indenização de US$ 300 milhões e
mais uma parcela anual para investir na educação dos trabalhadores.
Hoje somos gigantes na exportação de proteína animal e isso
foi muito mais pela ação direta das associaçoes de produtores e industriais do
que pela ação governamental.
impulsionou esse País não pode por falta de união, comprometimento e liderança
sucumbir diante dos desafios impostos pelos mais 80 competidores
internacionais.
Parafraseando os torcedores nos estádios, EU ACREDITO NA
CAFEICULTURA BRASILEIRA, mesmo estando o jogo 7 a 1 para eles e o 2º tempo já
começou! Dá para virar esse jogo e só depende de Você!