QUEIMA DE FOLHAS DE CAFEEIROS PÓS-CHUVAS NÃO É DOENÇA

POR JOSÉ BRAZ MATIELLO

Nesses últimos dias ocorreu um fenômeno estranho: uma queima
de folhas de cafeeiros que causou preocupação em muitos técnicos e produtores,
que nos mandaram fotos mostrando o acontecido. Alguns logo desconfiaram de uma
doença nova, talvez uma bacteriose, pois viam um líquido escuro saindo da área
afetada.

Ao analisarmos as condiçoes de como e onde aconteceram os
problemas, foi possível correlacionar a queima como sendo de causa fisiológica
e não fitopatológica. Essa evidencia foi possível primeiro por que a queima
ocorreu em plantas esparsas dentro da lavoura e não em focos, como é de se
esperar quando ocorre ataque de um patógeno. Segundo porque o fenômeno ocorreu,
principalmente, em regiões mais quentes e secas, ambiente menos favorável às
bacterioses. Terceiro porque não foram verificadas lesões típicas de fungos ou
bactérias, não havendo reação do tecido aos possíveis patógenos, na forma de
halos amarelados, como é comum nesse tipo de infecção.

Por outro lado, ficou evidente, também, que as lavouras mais
novas, as mais sentidas pela estiagem, foram àquelas mais atingidas, dando uma
pista de que tinha a ver com o stress das plantas e do seu tecido foliar
enfraquecido. A pouca ou nenhuma ocorrência em regiões mais frias ou em áreas
sob irrigação reforça a correlação do problema com a forte estiagem dos últimos
meses.

As manchas escuras nas folhas, parecidas com uma queima,
vieram a surgir somente após ocorrência de chuvas porque os tecidos fracos,
quase desidratados, ao serem reidratados pelas chuvas, podem romper suas
células pelas altas concentraçoes de sólidos antes presentes, em contraste com
a nova condição de plena hidratação. Na presença de água, as células podem
entumecer e se romperem, morrendo e formando as áreas escuras. A rachadura de
tecidos é comum em frutos em períodos de chuvas. Os fisiologistas poderão
explicar melhor os mecanismos envolvidos na morte dos tecidos, em estudos
posteriores.

Deste modo, demonstrada a tendência de que o problema
ocorrido de queima na folhagem de cafeeiros seja de ordem puramente fisiológica
e ligada ao balanço de água/sólidos solúveis nos tecidos, logo deve haver
normalização.

(Fonte: Café Point)

Diversos aspectos da queima de folhas verificada em
diferentes áreas cafeeiras no pós-chuva, em set/out 2019.