QUEDA DOS PREÇOS DO CAFÉ AMEAÇA CULTIVO DE GRÃOS GOURMET

A desvalorização dos preços de referência do café pode
ameaçar o fornecimento de grãos de qualidade superior e a diversidade dos tipos
de café cultivados, segundo uma associação do setor

Há anos os produtores de café enfrentam perdas. No longo
prazo, a produção de variedades que incluem grãos básicos e premium pode
diminuir, disse Heather Perry, vice-presidente da Klatch Coffee e presidente do
conselho da Associação de Cafés Especiais. A maior produção de grãos básicos,
como arábica e robusta, reduz os preços, enquanto aumenta a demanda de
consumidores nos Estados Unidos, União Europeia e Japão por marcas exclusivas.

“Se esses cafés deixarem de existir, como podemos nos
diferenciar no mercado, onde você tem basicamente duas opçoes?”, disse Perry,
cujo pai fundou há 25 anos a Klatch, com sede em Rancho Cucamonga, na
Califórnia. “Quando olhamos em um prazo de dois a cinco anos, isto é o que me
preocupa sobre os preços do café: como é o meu modelo de negócio?”.

Agricultores no Brasil, maior produtor mundial de café,
agora cultivam lavouras mais extensas em fazendas mecanizadas e exportam
quantidades recordes, favorecidas pela desvalorização do real em relação ao
dólar, o que deixa o produto mais barato no exterior. Além disso, a produção
também está subindo no Vietnã, segundo maior produtor global.

A Klatch’s Coffee vende uma variedade de produtos para
clientes com gostos mais exigentes. Os preços podem variar de US$ 3 a US$ 20
por xícara ou mais. A empresa de torrefação comprou no ano passado a variedade
Elida Geisha Natural, do Panamá, por US$ 803 por libra-peso.

A maioria dos agricultores cultiva vários tipos de café.
Alguns produzem grãos com contratos de arábica negociados na ICE Futures US, em
Nova York. A cotação do café fechou a segunda-feira em 89,9 centavos de dólar
por libra-peso, próximo do menor nível desde 2005. Os contratos de futuros do
café robusta negociado em Londres são negociados perto do menor patamar em nove
anos.

Produtores de cafés especiais no Equador com “reputação comprovada”
estão recebendo ofertas mais altas do que fazendas tradicionais, segundo
relatório do Serviço Agrícola Estrangeiro do Departamento de Agricultura dos
EUA. Um importador coreano não identificado teria pago US$ 3,8 mil por uma saca
de 60 quilos em um lote de café especial produzido em altitude elevada no
Equador, de acordo com o relatório.

A Klatch oferece café com sabores diferentes de diversos
países a preços variados. Recentemente, o kit Elida Natural Geisha 803
Experience da empresa, que incluía 18 gramas de grãos inteiros, uma caneca e
instruçoes, vendido por US$ 75, esgotou.

Em meio à queda nos mercados futuros, desde o ano passado a
Associação de Cafés Especiais tem gastado mais tempo e recursos no estudo do
impacto sobre os produtores, explorando ferramentas alternativas para pesquisa
de preços e oferecendo às empresas maneiras de lidar com os riscos na cadeia de
fornecimento.

Muitos agricultores de uma variedade conhecida como arábica
lavado em partes do México, América Central, África e Ásia estão vendendo o
produto com preços abaixo do custo de produção, disse Ric Rhinehart,
diretor-executivo emérito da Associação de Cafés Especiais.

Muitos desses agricultores “não vão poder continuar”, disse
Rhinehart. “Aguentaram todas as perdas que podiam.”

(Fonte: UOL Notícias –
Bloomberg)