DÉFICIT HÍDRICO E ALTAS TEMPERATURAS IRÃO AFETAR A PRODUÇÃO EM 2021 NO SUL DE MINAS

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima
que, em 2020, a produção de café na região sul de Minas Gerais deve se situar
entre 17 e 17,8 milhões de sacas, o que representa um crescimento de até 27,3%
em comparação à safra 2019. Em 2021, a safra já seria naturalmente menor em
função da bienalidade de produção, porém essa queda poderá ser ainda maior
devido a fatores climáticos, que têm sido determinantes no volume da produção
de café no Brasil. De acordo com o professor do Departamento de Agricultura da
Universidade Federal de Lavras (DAG/UFLA) Rubens Guimarães, as temperaturas
elevadas, aliadas ao déficit hídrico observado nos últimos meses, são as
principais limitaçoes climáticas à produção do cafeeiro nas diversas regiões de
cultivo e pode levar a grandes perdas para os produtores em 2021.

O professor lembra que a ocorrência de fatores
climáticos adversos é frequente, como o excesso de chuvas nos anos de 1976,
1982, 1983, 1987; o frio intenso, com geadas severas em 1892, 1902, 1918, 1942,
1975, 1979; o calor excessivo em 1985, 2000, 2007 e 2014; e secas severas em
1942, 1961, 1963 e 2014). “Como se observou em 2014, a temperatura elevada
aliada ao déficit hídrico são as principais limitaçoes climáticas à produção do
cafeeiro nas diversas regiões de cultivo, tendo sido calculado um prejuízo de
mais de 30% na produtividade esperada de café naquele ano”, afirma Rubens.

 

De acordo com o produtor de café e pesquisador da
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) Gladyston Carvalho,
“as lavouras de café vinham em excelentes condiçoes, bem enfolhadas e
vigorosas. Entretanto, neste momento em que as colheitas estão sendo
finalizadas, observamos um aumento nas temperaturas e no déficit hídrico,
causando uma desfolha intensa. Além desses fatores mencionados, a desfolha foi
agravada pela dificuldade de controle da ferrugem, principal doença do
cafeeiro. Apesar do verão ter sido com chuva regulares, contribuindo para o bom
desenvolvimento vegetativo dos cafeeiros, fica ainda, a grande expectativa para
o agricultor, de como será a safra em 2021”. Ainda de acordo com o pesquisador,
o que sabemos “é que, se comparada com a previsão inicial que tínhamos para
2021, será, com certeza, menor, mas ainda é cedo para quantificar essa
redução”.

 

Esses fatores adversos afetam não somente as
lavouras em produção, mas também as lavouras em formação, causando um aumento
na mortalidade de plantas jovens e onerando o custo de formação da lavoura
cafeeira, pela necessidade de realização de um novo plantio, seja total ou
parcial da lavoura. Segundo Gladyston, “em áreas irrigadas, os danos são
menores, mas ainda existentes, uma vez que a demanda hídrica está muito
acentuada”.

 

Técnicas para defesa do plantio

 

Pensando nessas adversidades climáticas, em 2016 foi
instalado no câmpus da UFLA o experimento intitulado “Técnicas agronômicas para
mitigação dos efeitos da restrição hídrica no cafeeiro”, que é conduzido até o
momento. O objetivo desse estudo é aliar as técnicas já conhecidas com métodos
inovadores para mitigação dos efeitos da menor disponibilidade hídrica no
cafeeiro.

 

A pesquisa buscou entender os efeitos da seca e das
altas temperaturas no solo e na planta de café, propondo combinação de técnicas
como: manejo da cobertura do solo (com material orgânico ou mesmo filme de
polietileno), manejo ecológico da braquiária, uso de fertilizantes de
eficiência aumentada (estabilizados, de liberação lenta ou de liberação
controlada), uso de polímeros retentores de água e condicionadores de solo.
“Assim, foi possível propor técnicas de manejo da lavoura para aumentar a capacidade
de armazenamento de água no solo (cobertura com resíduos vegetais, uso de
polímeros retentores de água ou de compostos feitos de resíduos orgânicos),
diminuir as temperaturas no solo e nas plantas para menor perda da água
(melhorando a absorção de nutrientes com benefícios diretos no controle de
pragas e doenças)”, relata o professor Rubens.

 

De acordo com o docente, “a melhor estratégia para
que o cafeicultor se defenda das secas, que normalmente são potencializadas
pelas altas temperaturas, é o manejo da lavoura, que deve ser planejado desde a
sua implantação. Melhor cuidar de menores áreas de café bem manejadas (com
altas produtividades) do que de grandes áreas pouco produtivas (com custos
elevados)”. Dessa forma, o professor sugere as seguintes recomendaçoes, que
podem auxiliar os cafeicultores diante dos desafios que a seca e as altas temperaturas
estão impondo, já que essas adversidades climáticas estão cada vez mais
frequentes:

 

Mantenha o solo coberto, especialmente nas linhas de
plantio, com material oriundo da ceifa da braquiária ou de outras “plantas de
cobertura” cultivadas nas entrelinhas, casca de café (subproduto do
beneficiamento do café) ou composto orgânico. Além de manter o solo com maior
umidade (maior eficiência das adubaçoes) e com temperaturas mais amenas,
diminui a competição com plantas daninhas. A utilização do filme de polietileno
para a cobertura do solo sob as plantas no período de implantação da lavoura é
uma opção a ser considerada.

 

Utilize corretamente o gesso agrícola como
estratégia para favorecer o desenvolvimento do sistema radicular das plantas
(acessar água em maiores profundidades). Manejos como a subsolagem para
descompactação do solo em camadas subsuperficiais também devem ser
considerados.

 

Utilize fertilizantes de eficiência aumentada
(estabilizados, de liberação lenta ou de liberação controlada). São uma boa
opção, especialmente em épocas de má distribuição de chuvas, pois podem
aumentar a eficiência do uso de nitrogênio pelas plantas e minimizar impactos
ambientais causados pela adubação nitrogenada convencional. A utilização desses
fertilizantes reduz a lixiviação do nitrato para as camadas mais profundas do
solo, evitando contaminação do lençol freático e diminuindo a emissão de gases
causadores do efeito estufa para a atmosfera, como dióxido de carbono e óxido
nitroso.

 

Pense na otimização da água (seja das chuvas, seja
das irrigaçoes). Lembrando que, não só em épocas de safras baixas, mas a
qualquer tempo, é fundamental adotar cuidados para a produção de cafés de
melhor qualidade, para o alcance de melhores preços no mercado, compensando
ainda que, parcialmente, as quedas de produtividade.


(Fonte: CCCMG)