CUIDADOS COM A LAVOURA DE CAFÉ NO INVERNO

O mercado cafeeiro vem crescendo cada vez mais ao longo dos
últimos anos. Algumas pessoas passaram a investir na produção e dúvidas
surgiram como: pouca chuva nos últimos meses, como isso implicaria diretamente
na produção do café; qual a melhor irrigação; problemas como o bicho-mineiro;
agrotóxicos; orçamento; entre outros. Por isso, conversamos com o Pesquisador
de Transferência de Tecnologia da Embrapa Café, Anísio José Diniz, que
esclareceu estas questões. 

Como a falta de chuva pode atrapalhar a produção cafeeira
neste mês?

O cafeeiro tem durante o seu ciclo quatro fases fenológicas: 

1- Florada e expansão dos frutos – outubro a dezembro; 

2- Granação dos frutos – janeiro a maio; 

3- Maturação e início da colheita – abril a junho; 

4- Colheita e dormência das gemas reprodutivas – junho a
setembro. 

Neste mês de junho, a maioria das lavouras de cafés das
principais regiões produtoras Brasil estão no terceiro ciclo fenológico –
maturação dos frutos e início da colheita. 

Os frutos de café no estádio cereja (maduros) encontram-se
no ponto ideal de colheita, pois já acumularam maior quantidade de matéria seca
e, ainda, não sofreram influências negativas de fermentaçoes indesejáveis
durante a evolução desse estádio de café cereja para café seco. 

A ocorrência de chuvas ou de irrigação e, consequentemente,
o aumento da umidade no solo durante o final da fase de granação e do início da
maturação, conduz ao retardamento no processo de maturação dos frutos de cafés
e, também, compromete a secagem desses frutos/grãos em terreiros de cafés a
pleno sol, que influencia a qualidade da bebida. 

Como o produtor pode realizar uma colheita sem que consuma
boa parte do seu orçamento?

Toda atividade agrícola requer a presença de um profissional
qualificado (Agrônomo) para fazer o planejamento e, também, do acompanhamento
“in loco” das etapas definidas para a implementação, tratos culturais, manejo,
colheita entre outras. Geralmente, as instituiçoes de assistência técnica e
extensão rural desempenham, por meio dos seus profissionais, essas atribuiçoes. 

Algumas práticas usadas na implantação e no manejo dos
cafezais podem facilitar e melhorar o rendimento da colheita do café e,
consequentemente, amortizar os impactos dessa etapa do processo produtivo no
orçamento. Dentre essas práticas podemos citar a escolha das áreas (relevo,
fertilidade do solo), cultivares adaptadas às diferentes condiçoes climáticas e tolerância ao ataque de pragas e doenças, sistema de plantio
(espaçamento, densidade de plantas por área), podas e arruaçoes. 

Qual o melhor método de irrigação para o plantio de café?

Para pensar na irrigação, é necessário conhecer a região em
que está sendo produzido o café, pois ela pode sofrer adaptaçoes por conta do
solo, mão-de-obra, tamanho da lavoura. Recomenda-se a procura por um técnico
que irá observar o dimensionamento do sistema de irrigação, ou até mesmo ao
melhor método a ser utilizado (gotejamento ou aspersão), registrando
informaçoes mais precisas relacionadas às características físico-hídricas dos
solos, a demanda climática histórico dos locais, ao relevo das áreas em
questão. 

A quantidade de água disponível na região que está inserida
na lavoura de café pode estar relacionada às características de déficit hídrico
prolongado e aos veranicos frequentes, determinando assim a necessidade de
irrigação das plantas. Nesse caso, para suplementar esses períodos será
necessária uma lâmina anual de 600 a 900 mm, a depender da extensão do período
seco e da intensidade dos veranicos. Deve-se considerar ainda que com as
tecnologias para irrigação disponíveis, hoje, é possível usar parte desse
período seco para uniformizar a florada dos cafeeiros a partir da tecnologia do
“Estresse Hídrico Controlado”, que consiste na suspensão temporária da
irrigação. Essa tecnologia é fundamental para redução do tempo de colheita,
obtenção de frutos de qualidade e aumento de produção. 

Tecnologia de irrigação desenvolvida pela Embrapa

A Embrapa Cerrados, no âmbito do Consórcio Pesquisa Café,
coordenado pela Embrapa Café, desenvolveu uma tecnologia que visa o uso
racional da água na agricultura denominada Estresse Hídrico Controlado. Essa
tecnologia contribui para a produção de café cereja descascado na região do
Cerrado, onde a distribuição irregular de chuvas impõe a necessidade de
irrigação para viabilizar o cultivo de café. O estresse hídrico controlado, que
dispensa investimento inicial, garante economia de água, aumento da produtividade
(em torno de 15%), mais qualidade e menor custo para o produtor. 

A técnica consiste em suspender a irrigação na estação seca
do ano durante um período de 72 dias (sendo o período ideal entre 24 de junho e
4 de setembro) para sincronizar, uniformizar o desenvolvimento dos botões
florais e, consequentemente, dos frutos, o que garante café de melhor
qualidade. Esse processo tecnológico permite a obtenção de 85% a 95% de frutos
cerejas no momento da colheita, maximizando a produção de cafés especiais, de maior
valor agregado no mercado. 

Em decorrência dessa uniformização, o número de passadas de
colheitadeiras diminui, reduzindo a operação de máquinas (em torno de 40%).
Além disso, a tecnologia garante a redução de grãos malformados (em torno de
20%) e dos custos de produção com água e energia (em média de 35%). O manejo
adequado das aplicaçoes da água de irrigação associado ao estresse hídrico
controlado representa a melhor opção para evitar perdas de nutrientes por
lixiviação e fornece condiçoes propícias de umidade do solo, para que as raízes
possam respirar adequadamente e atender à demanda hídrica e nutricional da
planta. 

Sobre o bicho mineiro, qual a melhor forma de combatê-lo?

O bicho-mineiro adulto é uma pequena mariposa
branca-prateada, que durante o dia, fica escondida na folhagem e, ao
entardecer, aparece voando junto ao cafeeiro, quando as fêmeas fazem a postura,
na face superior das folhas. Após a eclosão dos ovos, as lagartas penetram no
limbo foliar, onde se alimentam do tecido entre as epidermes, deixando um
vazio, que vai crescendo na medida em que a lagarta se desenvolve. Essa área
destruída seca aos poucos e forma lesões ou manchas de cor marrom, conhecidas
como minas, dando o nome a praga “bicho-mineiro” ou “minador das folhas”. Essas
minas ou lesões, em regiões mais úmidas, podem servir de entrada para o
desenvolvimento de fungos, ampliando e as tornando escuras. 

A intensidade do ataque depende de muitas causas: Chuva e ar
úmido reduzem o ataque da praga. Lavouras mais arejadas e sujeitas a vento são
atacadas com mais facilidade. Inimigos naturais reduzem o ataque da praga.
Conforme resultados de pesquisa, esses inimigos, em condiçoes favoráveis, podem
reduzir o ataque da praga em mais de 70%. 

O ataque da praga é maior nos períodos secos do ano,
aumentando a partir de junho e atingindo o máximo em outubro. O ataque também
pode aumentar nos meses de março ou abril, quando se verificam veranicos em
janeiro ou fevereiro.

 Nível de controle: 30% de folhas com minas intactas
(lagartas vivas) 

O controle integrado que utiliza de diferentes meios de
controle (variedades e cultivares resistentes, controle cultural, químico,
biológico, entre outros) é sempre o mais sustentável. 

Informaçoes sobre os ingredientes ativos e produtos
comerciais utilizados no tratamento fitossanitário do café estão disponíveis no
Portal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa no Sistema
de Agrotóxicos Fitossanitários (AGROFIT) que consiste num banco de dados para
consulta pública sobre controle pragas (biológico, cultural e químico),
ingredientes ativos, produtos formulados, relatórios e componentes de fórmulas
registrados no Ministério da Agricultura, com informaçoes dos ministérios da
Saúde e do Meio Ambiente. 

É importante a presença de um profissional qualificado
(Agrônomo) para fazer o planejamento e, também, do acompanhamento “in loco” das
etapas definidas para a implementação, manejo da lavoura e dos tratos culturais
necessários, nesse caso específico, para a identificação e controle do bicho mineiro,
bem como de outros problemas de origem biótica e abiótica. 

Como evitar o uso de agrotóxicos no café?

A partir do fornecimento equilibrado de nutrientes às
plantas, essas terão crescimento e desenvolvimento suficientes para a produção
de frutos e, consequentemente, grãos de cafés. 
Contudo, devem ser considerados, além da nutrição equilibrada das
plantas de café, outros fatores como a disponibilidade de água para que, por
meio dela, haja absorção, distribuição e translocação dos nutrientes pela planta. 

Plantas com nutrição equilibrada e, também,
providas de outros fatores de crescimento e desenvolvimento em níveis adequados
como água, luz, CO2, O2 e calor, por meio da adoção de boas práticas agrícolas
e de gestão da cultura constituirão lavouras sustentáveis e os efeitos dos
fatores abióticos (altas temperaturas, seca entre outros) e bióticos (ataque de
pragas e
doenças, entre outros) ao longo do ciclo da cultura serão
mitigados.

(Fonte: CaféPoint)