
CONTROLE BIOLÓGICO DA BROCA NOS CAFEZAIS
Estima-se que a broca-do-café (Hypothenemushampei) provoque
danos na ordem de 500 milhões de dólares em todo mundo (Brun et al., 1989). O
controle químico desta praga,apesar de ser o mais utilizado, não tem
apresentado boa eficiência e vem causando problemas de resistência e
desequilíbrio do meio ambiente. Por isso, a utilização do manejo integrado, que
é uma estratégia de controle múltiplo que se fundamenta no monitoramento das
populaçoes para tomada de decisão adequada, com a utilização do controle biológico,
cultural e químico torna-se uma ferramenta aliada no controle de pragas nas
lavouras.
O controle biológico é um método de combater pragas
agrícolas através da utilização de seus inimigos naturais, que podem ser
insetos predadores, parasitoides e microorganismos (fungos, bactérias e vírus).
Os fungosentomopatogênicos são agentes de controle de
inúmeras pragas, como a broca-do-café. Dentre os diferentes agentes de controle
natural da broca está o fungo Beauveriabassiana, que foi observado em muitos
países atacando está praga (Murphy e moore, 1990). Existem vários estudos
descrevendo a eficiência de B. bassiana no combate da broca em campo, contudo,
foi observado que este fungo também pode ser um aliado no controle de outras
pragas como o bicudo do algodoeiro, mosca branca, broca do rizoma da bananeira,
psílideo, ácaro rajado, gorgulho-da-cana-de-açúcar entre outros (Azevedo et al.
2000).
Modo de ação
O fungo B.bassiana tem um estágio de desenvolvimento
conhecido como conídios, específico para disseminação e para início da
infecção. Na maioria dos casos o fungo penetra nos insetos por contato, quando
viável germina sobre o inseto e por ação química e física atravessa a cutícula
e penetra na cavidade geral do corpo. Posteriormente, com o objetivo de se
reproduzir, o fungo atravessa o corpo do inseto e produz conídios em grande
quantidade que vão ser responsáveis pela disseminação e infecção completando o
ciclo. As brocas mortas pelo fungo que esporulou, ficam geralmente na coroa do
fruto e com o corpo branco.
A infecção ocorre via tegumento, onde a B. bassiana germina
em um período de 12 a 18 horas, dependendo de fatores nutricionais. Decorridos
72 horas de inoculação, o inseto apresenta-se totalmente colonizado,
ocasionando a morte do inseto, devido à falta de nutrientes e ao acumulo de
substâncias toxicas liberadas pelo fungo. Sobre o inseto morto ocorre a
formação de conidióforos com uma grande quantidade de conídios, que após 7 a 10
dias são liberados no ambiente podendo contaminar novos indivíduos, reiniciando
o ciclo do fungo (Alves, 1998).
O fungo contamina a broca e age antes da penetração da praga
no fruto de café. Gonzaléz et al. (1993) testaram dois isolados de B. bassiana
sobre a broca-do-café e comprovaram a eficiência de controle com tempo médio
letal para o isolado 1 de 54,72 horas e para o isolado 2 de 92,4 horas após o
contato do fungo com a praga.
Comportamento da broca
A broca sobrevive e se multiplica de uma safra para outra
nos frutos remanescentes na planta ou no solo. Os machos da broca possuem asas
atrofiadas e permanecem no interior dos frutos apenas para copular as fêmeas.
As fêmeas vivem em torno de 156 dias e ao serem fecundadas saem em busca dos
frutos para colocar seus ovos, entretanto os frutos nessa fase não apresentam
condiçoes favoráveis para o desenvolvimento de suas larvas, pois as sementes
encontram-se com elevada umidade (86%) condição essa não favorável. Dessa
forma, a fêmea apenas realiza uma marcação nos frutos e após 50 dias quando as
condiçoes já estão favoráveis para o desenvolvimento das larvas as brocas
voltam nesse mesmo fruto e realizam a postura.
podendo perfurar até 25 frutos de café (Dardón; Flores, 1974), com uma
capacidade de colocar 25 ovos por galeria. O horário de revoada é de 16:00 a
18:00 horas, dessa forma coincidindo com as condiçoes de aplicação adequada
para os fungos.
Condiçoes de aplicação e manejo
A aplicação da B. bassiana é recomendada em temperaturas
entre 25º a 30º C e umidade acima de 65%, preferencialmente em dias nublados. O
intervalo de aplicação e a dosagem podem variar de acordo com a infestação da
broca, sendo o monitoramento fundamental para a tomada de decisão.
desenvolvido para defensivos agrícolas. A calda é de 400 litros por hectare,
podendo variar de acordo com as tecnologias utilizadas na aplicação, destacando
a importância de se realizar uma limpeza adequada dos equipamentos antes do
uso, visando a maior eficiência de calda.
Deve-se respeitar no mínimo 3 dias de carência após
aplicaçoes de fungicidas na lavoura, visto que alguns destes produtos podem
atuar negativamente sobre estes microrganismos reduzindo o crescimento
vegetativo, esporulação e viabilidade (Andaló, et al., 2004).
Prejuízos
Os danos aos frutos são causados pelas larvas da broca-de-café,
que vivem no interior destes podendo se alimentar de uma ou das duas sementes,
resultando em redução do peso dos grãos (prejuízo quantitativo), queda de
frutos e interferência na qualidade (prejuízo qualitativo), visto que os
orifícios depreciam o tipo do café e servem como porta de entrada de patógenos,
que podem causar fermentaçoes indesejáveis. Fato que é de grande importância,
devido à demanda do mercado por bebidas de melhor qualidade. Além disso, a
broca do café pode acarretar em redução da produtividade, em que um café com
100% de infestação (frutos broqueados) as perdas de peso podem chegar a 21,1%
ou 12,6 kg por saco de 60 kg de café broqueado (Souza et al., 2014), dessa
forma afetando a lucratividade do produtor.
Vantagens do controle biológico
Dentre as vantagens do controle biológico, esse tipo de
controle não proporciona resistência de pragas, apresenta menor toxicidade
humana e ambiental e redução dos custos, podendo ser até 87% mais barato que
alguns inseticidas convencionais. Além disso, esse controle não apresenta
período de carência e não acarreta em eliminação de insetos benéficos a
lavoura, o que em muitos casos é proporcionado por aplicaçoes excessivas e
inadequadas de produtos que resultam em morte de inimigos naturais, causando
assim desequilíbrio de outras pragas.
Devido ao produtor rural ter disponível poucas
ferramentas para o controle da broca-do-caféatualmente, a utilização da B.
bassiana passa ser mais uma opção no manejo das populaçoes dessa praga,
considerando os benefícios de se utilizar o controle biológico. Contudo, a
utilização desse controle tem o intuito de aumentar a eficiência das técnicas
atuais de controle através da utilização do manejo integrado de
pragas.
(Fonte: CaféPoint)