CENÁRIO MACRO PRESSIONA A COTAÇÃO DO CAFÉ

Por Rodrigo Costa*

O mês de janeiro encerrou em tom negativo diante dos
crescentes casos de contaminação pelo coronavírus, cujo total já passa dos 12
mil e gerou quase 300 mortes relacionadas a esta gripe.

Dado o contágio estar 98.5% dentro do território Chinês, os
Estados Unidos, na sexta-feira, implementaram medidas impedindo estrangeiros
vindos da China de entrar no país, enquanto os cidadãos americanos e residentes
legais vindos de províncias com grande incidência da gripe serão colocados em
quarentena.

As companhias aéreas americanas também anunciaram o
cancelamento de voos indo e voltando da China – como já tinham feito algumas
empresas europeias.

O período de férias para a comemoração do ano novo lunar
Chinês foi prorrogado, desta forma, as escolas só retomarão as aulas no meio de
fevereiro e várias empresas vão permanecer fechadas por mais tempo – inclusive
cafeterias das duas maiores bandeiras, em algumas regiões.

As bolsas de açoes caíram ao redor do mundo entre 1% e 2% na
sexta-feira, finalizando o mês em queda após terem sido capazes de sustentar a
performance positiva mesmo durante o risco de um possível conflito entre o Irã
e os Estados Unidos.

A ameaça do impacto no crescimento das economias causou uma
retração do apetite ao risco e, com isto, o Real brasileiro sofreu uma forte
desvalorização – atingindo uma nova mínima histórica – e o índice de
commodities CRB voltou para os patamares de setembro de 2019 – depois de fazer
uma nova alta de mais de um ano.

Dentre os componentes da cesta, o café arábica, que tinha
subido 50% no fim do ano passado, derreteu 21% nos últimos trinta dias,
desempenho similar ao do suíno-magro e do óleo de aquecimento – na realidade
apenas o cacau, o açúcar demerara e o ouro subiram no primeiro mês de 2020.

O contrato do robusta sofreu menos, da mesma maneira que
também não apreciou tanto no período mencionado acima, entretanto, tem de se
dar o desconto do Vietnã estar celebrando o ano novo nos últimos dias.

As perdas de Nova Iorque iniciaram no dia 31 de dezembro e
foram ficando mais acentuadas e sequenciais desde então, parcialmente
influenciadas por outras matérias-primas, como também por conta das boas chuvas
no Brasil.

Uma das grandes “certezas” dos altistas durante o rally que
levou o mercado de US$ 95.80 centavos para US$ 142.45 centavos em quarenta e
três sessões era a utilização dos estoques no destino e, como os estoques
certificados são naturalmente os “mais visíveis”, vinham sendo acompanhados de
perto.

Contudo, não apenas a queda dos certificados foi estancada,
mas os mesmos voltaram a subir e, ainda que o incremento não tenha ocorrido em
volume significativo, a simples mudança de tendência, apesar dos diferenciais
nas origens terem se mantido firmes, tirou um dos fortes argumentos dos mais
otimistas.

Na sequência teve a apreciação do dólar americano, o
rompimento de níveis de suporte atraindo a venda de fundos e o surto da nova
gripe de Wuhan.

A pergunta é: vamos voltar a ver o contrato “C” fazendo novas
mínimas?

Vai depender do quão rápido será contida a propagação do
coronavírus e como consequência da continuação da depreciação das moedas das
economias emergentes – ou em outras palavras, como ficará o cenário
macroeconômico.

Fora isso, tudo o que é inerente à produção e ao consumo do
café pende para um equilíbrio das cotaçoes com um viés levemente mais positivo,
haja vista o Brasil já ter comercializado ao redor de 85% da safra corrente e
mais de 30% do que vai colher no ciclo de 2020/21.

Neste tocante, vale mencionar a pesquisa divulgada pela
agência de notícias Reuters, apontando para uma produção brasileira de 66.9
milhões de sacas, o que gerará um superávit de apenas 2.5 milhões de sacas no
mundo, segundo os entrevistados.

O volume de sobra é praticamente nada e levando em
consideração um ciclo de produção menor em 21/22 (dada a bi anualidade na
produção), juntamente com o crescimento de 2% anual da demanda global – o
equivalente a 3.3 milhões de sacas –, o mercado vai ter de subir em algum momento
para resolver os déficits futuros.

A manutenção dos diferenciais em níveis elevados, como em
mais de 30 centavos por libra acima para Colômbia, 10 centavos acima para
Honduras, 10 centavos abaixo para Brasil e 130 dólares por tonelada acima para
Vietnã, são indicadores importantes vindo das origens dizendo que não concordam
com o que está acontecendo com o terminal, e deixando pouca alternativa para os
compradores.

Gostaríamos de externar nossa tristeza e solidariedade às
pessoas atingidas pelas chuvas torrenciais e inundaçoes em Minas Gerais e no
Espírito Santo, informando estarmos também contribuindo com os grupos criados
para ajudar as pessoas que estão se reerguendo.

*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre
café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

(Fonte: Café Point)