CAFÉ: QUALIDADE DA SAFRA BRASILEIRA DEVE DIMINUIR ESTOQUES

por Rodrigo Costa*

O presidente dos Estados Unidos anunciou uma nova rodada de
tarifas para o equivalente a 300 milhões de dólares em produtos importados da
China, ou seja, praticamente taxando quase tudo o que se compra daquele país.

A notícia aconteceu um dia após o FOMC (equivalente ao
COPOM) ter diminuído os juros em 0.25% e não ter dado como certos outros cortes
no curto-prazo – Trump tem feito pressão para cortes maiores dos juros.

Em tese o movimento de Donald “força” o FED a diminuir mais
rápido o custo do dinheiro, já que potencialmente pode comprometer o
crescimento econômico mundial – um dos pontos justificados por Powell na
entrevista após a reunião do banco central para baixar os juros neste momento.

A volatilidade dos ativos foi grande na semana que se
encerrou com as principais bolsas de açoes caindo mais de 3% em cinco dias, as
commodities derretendo e o dólar americano (DXY) atingindo o mais alto patamar
desde 16 de maio de 2017.

Os contratos de café da ICE caíram 1.6% e 2.38%,
respectivamente para o arábica e para o robusta, inicialmente encontrando
suporte diante do fim de semana frio no Brasil, para depois escorregar com
prognósticos de temperaturas baixas, mas insuficientes para causar risco de
geada no cinturão produtor.

Considerando a desvalorização do Real e do peso Colombiano
as perdas poderiam ter sido maiores, mas, como esperado, as vendas dos fundos
encontraram o interesse de compra de comerciais os quais há algumas semanas
ficaram de fora do mercado.

O reflexo no fortalecimento dos diferenciais é inevitável,
causando um fluxo menor de negociação do físico nas origens e um interesse
reduzido nos destinos.

Assumindo que o terminal volte a ficar pressionado e com
ganhos limitados, a disponibilidade dos estoques nos países consumidores deve
gradualmente diminuir em um ano deficitário e de preços caros para originar
café.

Em outras palavras: os cafés spots mais baratos devem atrair
compradores que não encontrarem alternativas mais “palatáveis” dos países
produtores, algo que acontecendo deve mudar ligeiramente a composição dos
spreads.

Outro fator positivo para Nova Iorque é a diminuição do
volume de café de qualidade da safra brasileira atual, cuja colheita está
próxima do final.

Sem em 2018/2019 os cafés produzidos foram em sua maior
parte de excelente qualidade, a de 2019/2020 após múltiplas floradas, maturação
irregular e chuva durante a colheita, prejudicou não apenas a disponibilidade
de cafés-não-naturais, como também dos finíssimos.

Neste cenário os suaves da América Central e do Sul tem
chances de reconquistar uma parcela de participação nos blends que andaram
perdendo para o Brasil, e, mais uma vez, tornar atrativos os cafés
certificados, por exemplo.

Uma casa corretora internacional divulgou sua estimativa de
oferta e demanda global para o café apontando um déficit de 2.6 milhões de
sacas no ciclo de 17/18, um superávit de 7.5 milhões de sacas em 18/19 e uma
déficit de 3.4 milhões em 19/20.

Os números indicam consumos mundiais saudáveis, com
crescimento de mais de 2% em cada período. As safras brasileiras estimadas pela
empresa ficaram em 65 milhões para 18/19 e 58 milhões de sacas para 19/20.

Tecnicamente o contrato “C” precisa respeitar os 96.25
centavos para evitar uma pressão vendedora dos fundos de sistema que volte a
testar os US$ 90.80 centavos por libra-peso. Um rompimento acima de US$ 103.80
devolve o mercado para a mão dos altistas, mas apenas o clima ou uma
movimentação ainda mais violenta das moedas deve alterar o intervalo de preços
que temos visto de maio para cá.

*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café
semanalmente como colaborador da Archer Consulting