
CAFÉ: COBERTURA MORTA É ALTERNATIVA PARA A CONSERVAÇÃO DO SOLO
O uso desses recursos pode evitar perdas na produção por déficit hídrico
e melhorar a nutrição do solo.
Deixar
o solo das lavouras de café completamente limpo não é a melhor opção para
manter o cafezal bem nutrido e evitar perdas na produção em decorrência do
déficit hídrico. Segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica
e Extensão Rural (Incaper), a utilização de cobertura morta com recursos
internos da propriedade pode ser uma excelente alternativa para manter a
conservação do solo e ampliar a infiltração de água.
No município
de São Gabriel da Palha (ES), agricultores têm seguido a recomendação do
Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper)
e obtido resultados satisfatórios. A família do senhor Zilto Acerbi, da
comunidade de São Jorge da Barra Seca, possui 15 hectares de café e utiliza a
cobertura morta em sua lavoura. São utilizados restos vegetais da poda e da
desbrota do café, assim como a palha gerada no processo de beneficiamento do
produto.
Segundo Edney
Acerbi, filho do proprietário, eles utilizam a cobertura morta há alguns anos e
os resultados são muito benéficos. “De primeira mão, percebemos os efeitos no
solo. Passamos a trabalhar com um solo muito mais enriquecido e a incorporação
da matéria orgânica ficou visível. Dessa forma, há menos necessidade de
adubação e a absorção de água é maior. É possível ver o resultado na planta a
cada renovação da cobertura morta”, diz Acerbi.
Recursos da
propriedade
O engenheiro
agrônomo do Incaper e extensionista João Luís Perinni explicou que a cobertura
morta é qualquer resto vegetal que você coloca na lavoura. “Na maioria das
propriedades, utilizam-se os recursos internos disponíveis no local, a fim de
não gerar custos”, afirma Perinni.
O
especialista informou que na região norte do estado usa-se muito a palha do
café, resíduo que não pode ficar nas unidades de secagem e precisa de
destinação correta por questões ambientais. Outro resíduo gerado de forma
bastante elevada são os da poda ou desbrota do café. “Tanto a poda quanto a
desbrota geram, naturalmente, muitos resíduos que podem ser distribuídos no
meio da lavoura”, diz.
Além de
proteger o solo e economizar água, a cobertura morta proporciona a reciclagem
de nutrientes no solo. “A planta absorve nutrientes do solo, que são devolvidos
por meio da casca do café e dos restos vegetais, que se decompõem e fornecem novos
nutrientes para as plantas. Com isso, você vai ter uma proteção do sistema
radicular e consequentemente uma nutrição melhor para o seu cafeeiro”, explicou
o agrônomo.
Segundo
informaçoes da Incaper, ele acrescentou que o produtor deve verificar, por meio
de análise de folha e solo, se há necessidade de complementação de nutrientes.
“Um dos benefícios da cobertura morta é que a matéria orgânica ajuda a diminuir
o investimento do produtor em adubo”, diz João Luís.
Proteção
contra a seca
O agricultor
Edney Acerb disse que no período de longa estiagem pela qual passou a região
Norte do Espírito Santo houve grande mortalidade de plantas e queda na
produtividade das lavouras. As lavouras dessa família, porém, mantiveram e até
superaram a produtividade em relação a dos agricultores que não utilizam a
cobertura morta.
“Tivemos que
restringir o uso da irrigação devido à seca, mas nossas lavouras superaram as
expectativas e o resultado foi muito bom principalmente nos solos mais
protegidos”. A produtividade de suas lavouras cafeeiras no período de seca foi
de 70 a 80 sacas por hectare. Em um ano normal, a produtividade nessa
propriedade chegou a 145 sacas por hectare.
“Os solos da
nossa região foram erodidos e a capacidade de infiltração de água reduziu
muito. Por isso, é importante colocar cobertura morta ou cobertura viva e fazer
alguma proteção desse solo para que a chuva não escorra e se perca. A água
infiltrada vai abastecer o lençol freático, o qual vai dar perenidade às
nascentes”, explicou João Luís.
Ele destacou
o trabalho de conscientização dos agricultores em relação à conservação de água
e solo realizado pelo Incaper na região Norte do Estado, profundamente atingida
pela crise hídrica nos últimos três anos. “Os produtores achavam que tinham que
deixar o solo das lavouras limpo igual ao quintal da própria casa. Isso foi
acabando com a infiltração da água. Porém, é preciso entender que mato no meio
do café é totalmente diferente de café no meio do mato. Tem que ter mato no
meio do café. Se o agricultor mantiver o mato baixo, controlado só traz
benefícios para a lavoura”, explicou João Luís.
Cobertura
morta no cafezal
O agricultor
Edney Acerb, que utiliza os 13 clones da variedade Vitória desenvolvida pelo
Incaper, explicou o passo a passo da implantação da cobertura morta nas suas
lavouras de café. “Após a colheita, o grão é levado até o secador, onde ocorre
o beneficiamento do café. A palha gerada nesse processo retorna para a lavoura
e é espalhada nos trilhos do cafezal após o final da colheita, quando também
ocorre a poda. Os galhos que não serão utilizados na próxima safra e os brotos
retirados dos pés de café durante o ano são descartados no meio da lavoura”,
explicou Acerb.
Ele disse
que, logo no início, o agricultor pode achar que essa dinâmica dá mais trabalho.
Porém, para quem já faz isso há algum tempo facilita o trabalho. “A lavoura
fica bem nutrida, brota menos e adoece menos. Sendo assim, usa-se menos
agrotóxico e adubação. Eu vejo pelas minhas análises de solo que a cada ano os
resultados são melhores. Além disso, você protege o solo de uma erosão”, disse
Edney.
(Fonte: SF
Agro via
Cafeicultura)