
INDÚSTRIA DE CAFÉ DO BRASIL LUTA PARA ACHAR GRÃOS DE QUALIDADE
A indústria de café do Brasil vem
sofrendo para encontrar e comprar grãos de melhor qualidade no mercado, após
uma colheita difícil e menor que a esperada em 2019, uma situação que ajuda a
colocar pressão sobre um setor que já sofre com margens baixas e fraqueza
econômica do país.
“A qualidade é o que nos
preocupa… o setor está tendo dificuldades de comprar matérias-primas
melhores”, disse nesta terça-feira a jornalistas o presidente da
Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Ricardo Silveira, durante
evento da entidade que premiou os melhores cafés da última temporada.
Os comentários, após uma colheita
encerrada há poucas semanas no Brasil, maior produtor e segundo consumidor
global de café, confirmam avaliaçoes anteriores de especialistas de que as
várias floradas levaram a uma safra desuniforme, com o clima irregular
resultando em um amadurecimento precoce e desigual dos frutos. Depois, chuvas
ainda derrubaram as “cerejas” em algumas áreas.
O Brasil colheu cerca de 49 milhões
de sacas de 60 kg este ano, segundo dados do governo, abaixo das expectativas
iniciais de mais de 50 milhões de sacas e bem inferior ao recorde histórico de
61,7 milhões de sacas de 2018, quando a qualidade foi boa.
“Ano passado tínhamos oferta
e qualidade”, pontuou Silveira, acrescentando que o diferencial pago pelo
produto melhor aumentou ante 2018. Ele preferiu não detalhar os valores.
Segundo o presidente do Sindicato
da Indústria de Café do Estado de São Paulo, Nathan Herszkowicz, “está mais
difícil de achar” café de qualidade gourmet, “mas longe de ser
impossível”. Ele ponderou, no entanto, que se paga um preço maior.
O preço do café gourmet nas
prateleiras, segundo o dirigente, é três vezes maior do que o dos cafés
tradicionais, que estão em torno de 18,50 reais por quilo nos supermercados da
cidade de São Paulo, segundo uma pesquisa do sindicato.
Já o “café superior”,
intermediário entre o gourmet e o tradicional, custa cerca de 30% mais que este
último.
VENDAS NO ANO
Ao mesmo tempo, o setor lida com
preços relativamente baixos nas gôndolas, na esteira das mínimas de 13 anos
registradas nas cotaçoes internacionais mais cedo no ano, com a oferta recorde
do Brasil na safra do ano passado ainda pesando, disse Silveira, da Abic.
Há ainda dificuldade de aumentar
os valores nas prateleiras, com a economia fraca no Brasil, ressaltou o
dirigente, que avalia que os preços do café nos supermercados estão semelhantes
aos registrados há seis meses.
“A indústria chegou no
limite, não tem como baixar mais”, disse ele, acreditando que os valores
devem seguir nos patamares atuais até o final do ano.
Para Herszkowicz, do sindicato
paulista, as indústrias que apostam também nos cafés gourmets vêm conseguindo
atravessar melhor este momento difícil, já que o produto é mais caro que o
tradicional e oferece maior margem.
Contudo, o gourmet não consegue
suportar sozinho o problema, pois responde por pouco mais de 10% nas vendas,
enquanto os tradicionais, mais baratos, representam mais de 80%.
Ele disse que algumas empresas
também estão apostando mais no segmento de cafés superiores, que têm um preço
intermediário entre o gourmet e o tradicional, como forma de melhorar suas
margens e obter boas vendas para consumidores que podem comprar um produto de
maior valor agregado.
Questionado sobre o ritmo de
consumo no país, o presidente da Abic manteve a projeção feita em abril, de que
o crescimento das vendas no país ficará abaixo do verificado em 2018, quando
aumentou 4,8%.
Segundo Silveira, o consumo ficou
praticamente estável no primeiro trimestre e aumentou de abril a junho, além de
ter sido beneficiado pelo frio mais intenso neste inverno em algumas áreas, o
que elevou a demanda.
“Vai crescer o consumo este
ano, mas ainda ficará abaixo do visto no ano passado… Isso reflete a economia
crescendo menos que o esperado”, destacou, sem estimar um número.
CONTRA FRAUDES
O presidente da Abic afirmou que
a entidade fechou uma parceria com a associação Proteste!, de defesa aos
direitos do consumidor, com vistas a evitar fraudes de qualidade no café.
Segundo Silveira, no ano passado,
25 empresas foram excluídas da Abic por fraudarem o selo de qualidade da
associação, vendendo um produto com mais impurezas, por exemplo. Neste ano,
apenas uma companhia foi excluída do quadro de associados da entidade da
indústria por esse motivo.
(Fonte: Reuters – Roberto Samora)