CRISE POLÍTICA AFUNDA O REAL E PRESSIONA O CAFÉ

O café não conseguiu reagir e pegar carona na
alta inicial, aliás, muito pelo contrário, o contrato de Nova Iorque foi quem
mais caiu. Na terça-feira (16) com o escorregão de algumas commodities o café
caiu de novo. Na quarta-feira, depois de inicialmente cair, finalmente Nova
Iorque teve uma boa recuperação fechando tecnicamente firme e apontando para
uma reversão da tendência baixista – com uma contribuição contínua do
enfraquecimento do dólar, incluindo o Real negociando abaixo de 3.10.

No mesmo dia declaraçoes do ex-diretor do FBI
sobre uma nota escrita em uma conversa com
 Trump,
na qual aparentemente o presidente solicitou suspender a investigação de seu
ex-conselheiro de segurança, mexeu com os mercados acionários fazendo com que o
S&P caísse 1.8% – volatilidade que há tempos não víamos. Também na noite de
quarta, uma nova rodada de descobertas de corrupçoes no Brasil, desta vez
provocada pela colaboração “espontânea” do grupo JBS, colocou o presidente
 Michel Temer na berlinda, movendo o Real no after-market
para 3.13.

Na quinta-feira o caos estava instalado com o
real afundando para 3.4091 (nível que não víamos desde dezembro último), o
IBOVESPA perdendo 11% e o café de novo apanhando com uma perda de quase US$
5.00 centavos por libra. A desvalorização da moeda brasileira só não foi maior
durante a semana graças à intervenção do Banco Central Brasileiro, que
provavelmente continuará atuando para tentar conter a volatilidade acentuada do
Real, que pode piorar bastante tanto com a manutenção de um presidente que
eventualmente não tenha poder de aglutinar sua base para votar reformas, quanto
no momento em que que possa vir renunciar/sair da cadeira – até que surja um
nome que devolva uma confiança à nossa tão castigada economia e situação
política.

É impossível para o café ter forças de fazer um
movimento acentuado de alta dentro deste cenário, ainda que tecnicamente na
sexta-feira a performance tenha sido positiva. O grau de incerteza que vai
rondar o Brasil pode servir de alento para uma eventual compensação de perdas
do contrato “C”, via o enfraquecimento do Real, permitindo que o produtor
consiga receber o mesmo tanto de reais por saca.

Outro fator limitante pode ser a colheita estar
entrando em pleno vapor nas principais regiões produtoras e os produtores terem
se retraído de vendas durante praticamente todo o ano de 2017, ou desde a alta
de novembro de 2016. Se de fato há um estoque de passagem maior do que se
imaginava que teríamos neste momento, e que diversos agentes acreditam ser
possível, então haverá também um volume maior de venda nas puxadas do terminal.

Claro que há também quem ache que o estoque é
virtualmente zero, e para estes o mercado está dando uma bela oportunidade de
compra, assim como creem que não haverá necessidade de venda dos produtores. O
problema é a instabilidade do Real e o quanto isto se traduz em Nova Iorque
estar “subindo”. Digo isto pois o contrato “C” em centavos de real por libra
peso se afastou R$ 30 centavos da mínima de quarta-feira, voltando a negociar
nos níveis de meados de abril.

Se por outro lado tudo for apenas um pesadelo e
a moeda brasileira firmar novamente, voltamos a ter um mercado construtivo
olhando apenas para o déficit em 2017/2018 de pelo menos 3 ou 4 milhões de
sacas.

Na semana, o USDA (Departamento de Agricultura
dos Estados Unidos) divulgou diversos relatórios das origens produtoras de
café. O órgão estima que a safra 2017/2018 do Brasil será de 52.1 milhões de
sacas, 4 milhões a menos do que a atual, dividida entre 40.5 milhões de arábica
e 11.6 milhões de sacas de robusta. Vale notar que o estoque de passagem a ser
juntado a safra que está sendo colhida foi estimado em 5.41 milhões de sacas,
no mesmo relatório sobre o Brasil.

Para Colômbia a estimativa de 2017/2018 ficou em
14.6 milhões de sacas, 100 mil sacas a mais do que a atual. Índia deve produz
5.45 milhões de sacas, mais do que as 5.17 milhões de sacas do ano anterior. Na
Indonésia a colheita esperada é 300 mil sacas maior, ou 10.9 milhões de sacas
e, finalmente, para o Perú, o departamento estima uma produção de 4.5 milhões,
frente as 4.21 milhões anteriores.
O resumo da oferta e demanda global, o relatório
“World Markets and Trade”, só deve ser divulgado em junho somando a produção de
todas as origens e constando o consumo e estoque mundial.

No Brasil a CONAB manteve a estimativa da
produção de 2017/2018 em 45.5 milhões de sacas no seu segundo levantamento, ou
11.6% a menos dos 51.4 milhões de sacas da safra 16/17.
A Associação de Café Verde dos Estados Unidos,
sigla “GCA” em inglês, divulgou os estoques mantidos em território americano
totalizando 6,89 milhões de sacas, um incremento de 165,497 sacas no mês de
abril, atingindo o mais alto patamar desde março de 1994
.

Os diferenciais de cafés brasileiros não têm
firmado com a oscilação do terminal, na verdade alguns corretores
internacionais mencionaram em seus comentários semanais inclusive um
barateamento para as posiçoes mais largas – sinal negativo aos que
potencialmente poderiam prover mais suporte ao mercado.

Como nem tudo é má notícia, os fundos devem ter
aumentado suas apostas na baixa, estando provavelmente uns 14 mil lotes
líquido-vendidos – considerando o relatório do COT e a atividade dos últimos
três dias da semana.

Se o contrato de julho respeitar o nível de US$
128.65 centavos por libra há chances de romper US$ 135.35 centavos, acionando
então “stops” de compra para diminuir um pouco do mal humor recente.

Outro fator positivo é o índice do dólar ter
caído para próximo de 97 pontos, nível que não se via desde o dia seguinte à
eleição de Donald Trump, e cujo enfraquecimento deixa as commodities mais
baratas – em um cenário aonde todo o resto parece caro – vide a alta do CRB
recente.
Fora isto tudo não podemos esquecer do clima,
sejam chuvas que estraguem a qualidade da produção brasileira ou frio que
tragam risco de geada, ambas com potencial forte de alta principalmente se os
fundos continuarem vendendo e ficarem com uma posição ainda maior vendida.

(Fonte: Rodrigo Costa/ Café Point)