Pare. Pare tudo. Não é possível cuidar disso agora, só depois de terminada a
colheita. Essa orientação é frequente nas propriedades cafeeiras, mostrando a
prioridade e a preocupação em concentrar esforços na colheita do café. A boa
gestão das propriedades deve, no entanto, deixar fluir a colheita, sem esquecer
das demais atividades nas lavouras.
A colheita, de fato, utiliza muita gente, materiais, equipamentos e recursos
financeiros. Ela representa mais de 1/3 dos custos totais de produção de café
e, isso tudo, concentrado em período curto, de 2-3 meses. Deste modo, a pressa,
o apuro e mesmo a agonia em realizar a operação de colheita tem razão.
Apesar do café ser um produto que depois de preparado e seco
pode ser mantido armazenado por longo período, de vários anos, os frutos,
depois de maduros, permanecendo na planta ou caindo ao solo, logo começam a
perder sua qualidade.
As maiores preocupações na colheita, que tiram o sono do
produtor, tem sido a administração do pessoal: arrumar gente, contratar,
ajustar preços da medida colhida, risco de acidentes, até por picadas de
cobras, falta de entrega de carteiras de trabalho pelo trabalhador, visando
saída para outras fazendas, a fiscalização do Ministério do Trabalho, que
sempre procura algo errado, sem falar em arrumar recursos para pagar os
serviços, no fim de cada semana.
É lógico que a mecanização, ao reduzir o uso de pessoal, resolve, em boa parte,
o problema, porém, também traz dor de cabeça à administração. É peça que quebra
e demora na assistência, enquanto isso a máquina fica parada. É o repasse da
máquina, é trator para puxar o café colhido, é terreiro/secador para secar esse
maior volume colhido e outros problemas mais.
Quando os serviços de máquina de colheita são terceirizados,
vejam só as particularidades que acontecem no café: o pagamento é feito por
hora, como qualquer outro serviço, mas é preciso, além disso, fornecer o óleo
combustível para a máquina e a comida e a dormida para o operador. Enquanto
acontece grande preocupação com a colheita, também nas lavouras o processo não
para. É mato que cresce, é praga/doença que aparece, é lavoura que já precisa
ser podada, é replanta, é molhação, é muda para ser feita, tudo isso também
necessita de gente e de trator, os quais, nessa altura do campeonato, estão lá
ocupados na colheita.
Com todo esse corre-corre, sabemos que é difícil, mas é preciso
harmonizar as atividades, dando sentido de prioridade às mais importantes, sem
esquecer que a planta de café, ao mesmo tempo em que produz frutos num ano,
precisa se preparar, com crescimento e folhagem, para suportar a próxima safra.
Talvez por isso, muitos dizem que a lavoura de café é uma beleza, fácil de
cuidar. O problema é sua produção, ou seja, o trabalho de colher.
A propósito, cresce bastante o sistema safra zero, onde,
através da poda, se colhe muito, porém somente a cada dois anos. A propriedade
cafeeira, em suas atividades, deve, sempre, ser cuidada em conjunto. A agonia
vai existir, é certo, porém, no sentido aqui usado, de ansiedade, não aquele em
que a palavra expressa uma fase terminal, quando se vai agoniando, ou perdendo
forças.
(Fonte: Café Point)