Os preços do café – que mostra o pior desempenho
entre as principais commodities agrícolas neste ano – podem receber impulso do
fenômeno climático La Niña, que ameaça a próxima safra do Brasil.
Após a supersafra em 2020, o La Niña aumenta o risco
de queda da produção no próximo ano. A maioria das lavouras, já secas devido
aos meses de chuva abaixo da média, agora é afetada pelas altas temperaturas.
O La Niña ocorre quando a superfície do Oceano
Pacífico esfria, o que provoca uma reação em cadeia atmosférica que pode
alterar o clima ao redor do globo. No Brasil, o tempo muito seco e quente
obscurece as perspectivas para várias commodities, como café arábica, laranja,
açúcar e soja, mesmo com o alto volume de chuvas em algumas áreas do Sul.
Em contraste com as cenas preocupantes de flores
murchas nos cafeeiros brasileiros, o ritmo das exportações do país é recorde,
pois as condições mais frias e úmidas favoreceram os cafeicultores no ano
passado.
O alto volume de embarques do Brasil quando o
consumo ainda é fraco por causa das restrições da pandemia ajuda a explicar por
que os futuros do arábica acumulam queda de 16% neste ano, mais do que qualquer
outra commodity agrícola de peso.
“A situação é muito ruim, com pés murchando
intensamente a cada dia”, disse Regis Ricco Alves, diretor da consultoria RR
Consultoria Rural, de Minas Gerais, estado que lidera a produção de café no
Brasil.
Não há previsão de chuvas para os próximos 10 dias
nos cafezais, e as temperaturas devem atingir níveis recordes. Nesta semana, as
temperaturas podem chegar a 35 graus Celsius, de acordo com a Somar
Meteorologia. Mesmo lavouras que se beneficiaram com as chuvas da semana
passada receberam apenas 30 milímetros neste mês, 40% do esperado.
Nesta época do ano, surgem as floradas para a
colheita do próximo ano. Mas a primeira florada em agosto foi perdida em muitas
regiões e as condições para uma nova floração são ruins.
Givago Miranda, cafeicultor do município de Três
Pontas, em Minas Gerais, disse que os pés de café estão murchando e amarelando,
e os botões são “cozidos” antes de abrir em alguns casos.
“O potencial para a próxima safra agora é certamente
de 5% a 10% menor”, disse.
Na região da Mogiana, no estado de São Paulo, o
cafeicultor Rodrigo de Freitas registrou apenas 4 milímetros de chuva em agosto
e a mesma quantidade em setembro. De abril a junho, o clima também foi seco.
Mesmo com irrigação e bom volume de chuvas até 10 de outubro como previsto, o
estrago já pode ter sido feito.
“A situação está piorando, e mesmo lavouras adultas mais resistentes têm sido prejudicadas”, disse Alves.