O Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e
Extensão Rural (Incaper) apresentará os resultados da pesquisa sobre cultivo de
café sombreado através de uma série de quatro vídeos. A pesquisa foi
desenvolvida pelo Incaper e por parceiros que compõem a Rede de Estudos
Ambientais e Socioeconômicos em Sistemas de Produção Agroecológicos.
Os estudos foram realizados ao longo de três anos na Fazenda
Experimental de Bananal do Norte, do Incaper, em Cachoeiro de Itapemirim. A
pesquisa consistiu na avaliação de diversos aspectos da plantação de café
consorciada com gliricídia, banana, ingá e pupunha, sendo composta por quatro
projetos que avaliaram: a dinâmica da água; a produtividade e análise
econômica; análise de qualidade; e as árvores com potencial econômico. A
comparação do cultivo de café sombreado foi feita entre as quatro culturas e o
café sozinho, plantado a pleno sol de modo tradicional.
A pesquisa foi realizada em rede, com parceria entre o
Incaper, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o Instituto Federal
do Espírito Santo (Ifes) e a Universidade Vila Velha (UVV), com financiamento
da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) e da
Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), por meio
do Edital Fapes/Seag PPE Agro 06/2015.
O principal objetivo da divulgação dos resultados pelos
vídeos é simplificar a linguagem técnico-científica, principalmente para o
cafeicultor, de acordo com a pesquisadora do Incaper e coordenadora de um dos
projetos da pesquisa, Penha Padovan. “A equipe da pesquisa avaliou que as
informações integradas dos quatro projetos seriam de maior utilidade para o
público em geral pelo formato em vídeo, especialmente, para os agricultores
interessados na adoção do sistema agroflorestal”, frisou.
O biólogo do Incaper e responsável pela produção dos vídeos,
Almir Bressan, destacou que um dos principais objetivos é divulgar os
resultados, de maneira que o conteúdo chegue ao cafeicultor com uma linguagem
acessível. “Era um desafio para nós divulgar o resultado de uma pesquisa ao
público final que são os agricultores. Por isso, pensamos em estratégias para
apresentar o conteúdo científico de maneira simplificada e objetiva.
Encontramos nos vídeos essa solução que pode ser compartilhada nos canais
digitais com maior facilidade”, explicou.
O primeiro vídeo da série trata da dinâmica da água em café
sombreado, seguido pelo resultado sobre a produtividade e análise econômica do
sistema agroflorestal. O terceiro vídeo aborda a qualidade do café cultivado
com as culturas em análise. A série é finalizada com o vídeo que destaca a
potencialidade econômica das árvores utilizadas no sombreamento do café.
Dinâmica da água
Em cafés cultivados com árvores, a dinâmica da água é
influenciada tanto pelos cafeeiros quanto pelas outras culturas. Os estudos das
condições ambientais em sistemas agroflorestais estimaram a quantidade de chuva
interceptada pela copa das árvores de gliricídia, ingá e bananeira, utilizadas
no sombreamento do café.
Foram identificados diferentes aspectos relacionados à
distribuição da água da chuva, de acordo com as espécies de árvores, conforme
descreveu Penha Padovan, que é doutora em Sistemas Agroflorestais. “A pesquisa
mostrou que a arquitetura das plantas, as características das folhas e o manejo
podem influenciar nos sistemas de sombreamento do café. Vimos que a água da
chuva pode tomar diferentes caminhos e o que queremos é diminuir as perdas
nesse processo, deixando mais água disponível para o café”, explicou.
De acordo com o pesquisador do Incaper, Renato Taques, o
estudo comparativo do teor de umidade do solo no sistema de café sombreado com
as árvores de gliricídia, bananeira, ingá e a pleno sol demonstrou uma
diferença significativa entre os cultivos.
“Observamos que o teor de umidade varia de acordo com a
espécie utilizada no sombreamento. No estudo, a gliricídia apresentou a maior
conservação de água no solo, seguida do ingá e da banana. A pesquisa indica
também que o café sombreado pode conservar mais água no solo. Em uma situação
de estiagem, o desempenho do café sombreado seria melhor do que o café em pleno
sol, uma vez que o teor de umidade do solo é um fator fundamental para a
qualidade e produtividade do café”, afirmou Renato Taques.
A pesquisa avaliou a produtividade e analisou economicamente
o cultivo agroflorestal dos cafés sombreados com gliricídia, banana, ingá e
pupunha. Foi indicado que a produtividade do café pode ser influenciada pela
espécie de árvore utilizada no sombreamento, como explicou o coordenador do
projeto e pesquisador do Incaper, João Araújo.
“Os cafés com bananeira e gliricídia não se diferenciam do
café solteiro e apresentaram produtividades iguais. Já o café com pupunha e com
ingá produziram 32% a mais que o café solteiro, indicando que a pupunha e a
árvore de ingá são plantas companheiras para o café nessa situação de cultivo
do cafeeiro conilon não irrigado”, descreveu João.
O cultivo de café sombreado ajuda a diversificar a produção nas propriedades agrícolas. Além disso, as sombras das árvores associadas a café ajudam a diminuir o mato nas entrelinhas, reduzindo a necessidade de mão de obra para capina e minimizando, assim, os custos de produção. Outro ponto relevante destacado na pesquisa é que as sombras das árvores oferecem maior conforto térmico para o produtor rural.
Análise de qualidade
Um dos projetos da pesquisa, coordenado pelo professor do
Ifes, Wanderson Romão, realizou a análise da qualidade do café cultivado a
pleno sol, comparado ao cultivo sombreado. A pesquisa utilizou equipamentos de
ponta para análise dos cafés, cujos resultados foram comparados com a
metodologia de análise sensorial padrão, realizada por degustadores de café.
As amostras de café consorciadas com gliricídia obtiveram as
notas mais elevadas e os melhores resultados. Todas as amostras foram
caracterizadas quimicamente pelas técnicas analíticas utilizadas. Os cafés
cultivados a pleno sol, de modo tradicional, foram os que obtiveram as menores
notas de qualidade. A incidência direta da radiação solar faz com que haja uma
maior temperatura no ambiente, o que afeta tanto a maturação quanto a
frutificação dos grãos, além da qualidade.
Árvores com potencial econômico
As culturas associadas no plantio de café sombreado podem
contribuir economicamente, gerando uma alternativa de renda para o agricultor,
como indicou um dos projetos da pesquisa. O cultivo de café sombreado também
apresenta uma alternativa para diminuir as perdas na produção em tempos de
secas prolongadas e altas temperaturas.
A produção de café consorciada gera madeira, frutos, óleos,
resinas e outros produtos que oferecem maior valor agregado e podem ser
comercializados. A pesquisa sobre espécies arbóreas para composição de café
sombreado, coordenada pela professora da UVV, Denise Endringer, avaliou, ainda,
a gliricídia como fonte de produtos bioativos, que podem ser utilizados na
composição de cosméticos.
A série de vídeos sobre café sombreado será divulgada ao
longo do mês de janeiro e fevereiro nos canais do Incaper no Instagram,
Facebook e YouTube.
(Fonte: Incaper)